domingo, 13 de março de 2022

Troféu Hemingway (merecidamente)

Parece que inventei esse jogo de minicontos. Hemingway inspirou. Exige jogadores pacientes que tenham uma paixãozinha por escrever e que  gostem de desafiar possibilidades. O objetivo é simplesmente contar uma história - como quiser - em até duas linhas, uma narração completa com o mínimo de palavras possíveis. Ali deve estar tudo: no ponto final a desnecessidade de complementos. Deixa sim espaço ao leitor pra voar com a imaginação diante das elipses narrativas, mas só a título de sugestão porque cada palavra nele já deve ser suficiente. Não me parece justo ter perdedores. O ganho é notoriamente particular. Um auto desafio, bom pra jogar sozinho, bom pra jogar acompanhado - e a depender com quem se joga bem divertido. Penso em praticar bastante - perfeito pra associar minha falta de tempo com minha vontade de escrever. Patentear também.

Seguem, como maus exemplos, minhas tentativas frustradas de hoje:

O Astronauta

É que li um miniconto sobre um astronauta. Em duas linhas passava tudo. Local, sentimentos, descobertas e encerrava ao mesmo tempo com fé e desespero. Eu não me sinto hábil ao ponto de contar boas histórias em duas linhas e tenho vontades que interrompem até minhas boas histórias. Porém, eu tento. Essa tem quantas? Poderiam ser duas, transformaram-se em três e agora são quantas? Quatro? Acho que depende do formato. 

A Lua

Ah, o pensamento que interrompe meus papéis e cálculos, apenas pra me fazer sonhar sobre um dia em que eu não precisei sonhar. As estrelas eram suficientes e a lua... brilhava só pra mim. 

A Astronauta

A astronauta, os movimentos, sua dança, a ausência do peso na gravidade. Espectadora, tenta tocar as estrelas que assiste mesmo que pareçam fora do alcance. Mesmo ali. 

A escritora

Leu o que escreveu e não desistiu. Estava viva, amava letras, pessoas, transformar o movimento do lápis em sentimentos. Isso bastava, criar. Perdão pra quem ainda costuma lê-la já que nada parece fazer sentido. Nem as histórias e nem os sentimentos. 

O jogo

Virou um jogo sim. Eu consigo. Duas linhas. Apenas duas linhas. Interrompem meu sossego pela impossibilidade de não conseguirem ser apenas duas linhas. Contenha-se agora. Para. Impossível? Impossível. Me excedi outra vez. 

O primeiro céu

Perseverante, mas péssima em resumir. Especialmente quando falo sobre o céu. Existe tanta coisa pra falar sobre o céu, mas vou calar. Olha hoje! Basta olhar. 

O segundo céu

Olhou? O céu? Há cores e encantos que ele mostra e cores e encantos escondidas que só se pode imaginar. Perco muito tempo imaginando. Perco?

Seguem também as que, aparentemente, acertei:

A imaginação 

Chegou, me fez continuar a brincadeira e terminar mais um texto. Bem-vinda, imaginação, bem-vinda. 

A pontuação 

Parecia que morava no ponto a eterna interrogação.

A porta

Na fresta da porta encontravam-se os segredos que nunca pensou em dividir. 

O amor

Romances são mitos, parceria é amor. 

O amor dele

Teu amor está na varanda, na janela, na cafeteira. Na taça de vinho esperando meu brinde na mesa. 

O amor dela

Meu amor está nos detalhes que enfeitam e preenchem o lar que nos permite sonhar. 

O início

Parecia tão bom quanto o primeiro pedaço de um bolo preferido.

O meio

Maduro, enxerga nos desastres oportunidades de crescimento.

O fim

Otimista ou tola, enxergava no fim um começo. 

A mulher

Inspirando-se, encantando-se com detalhezinhos. Continuava assim. 

O livro

E o livro aberto era um convite mudo pro seu universo. 

A pergunta

Quem sabe ali não mora a lição mais preciosa sobre simplicidade?

A conclusão 

Parece que encontrou um jeito das coisas andarem do seu jeito. 

A esperança 

Que seja como hortelã: um doce ardor. 

*** Inspirado no miniconto de Ernest Hemingway : "Vende-se um par de sapato de bebês. Nunca usados".

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