quinta-feira, 2 de junho de 2022

A dona da noite não toca valsa

Minha vitrola é indomável, toca sozinha, juro, toca sozinha.

Ontem, pouco perto de meia noite, apaguei todas as luzes (como de costume), coloquei pouca roupa pra dormir (está quente) e acreditei (ando nessa fase) que tudo correria tranquilamente entre o cair da noite e o nascer do Sol. Estava tudo bem e calmo e de acordo com o roteiro que planejei uma semana antes (lua em virgem), mas minha vitrola não. Ela é o ponto fora da curva da minha casa que abrilhanta e harmoniza o que de outra forma pareceria descombinação. Ela é a dona da noite porque insiste em me fazer lembrar várias músicas que estavam esquecidas e que eu já gostei tanto que me levanto pra dançar todo vez que tocam.

Eu? Eu moro sozinha, tenho medos antigos, já me perguntei várias vezes sobre os poderes sobrenaturais que envolvem um objeto que funciona sem que o acionem, mas de tanto que prezo e quase amo a minha vitrola, decidi ignorar. Permito, deixo, danço, participo. Rezo para que o que quer que a afete tenha boa intenção, acredito que o quer é festa. Ontem, foi estranho porque não consegui deixá-la escolher a música. Girei o botão que maximiza o volume das notas, ajustei o grave, parti pra minha estante (invejável) de LPs antigos e puxei o "Disco Inferno" de The Trammps. Da minha parte, deixando de lado toda e qualquer parte que não me seja particular, escolhi o som da noite. Também sei me assombrar. 

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