quinta-feira, 2 de junho de 2022

Mal do século

Blancard alinhou os papéis mais uma vez na mesa. Ela iria chegar. 

Tinham marcado de 15h e ela estava atrasada 12 minutos e 37 segundos. Ela não iria chegar.

Blancard começou a tamborilar os dedos na mesa do escritório, mas a vontade era de roer, destruir, fazer sangrar as unhas com a ansiedade. Ela não iria chegar.

Inquieto de várias formas que eu não conseguiria descrever - movimentos internos - levantou-se da cadeira em um ímpeto e foi pra janela. Ela não iria chegar.

Ficar na janela amplificava a agonia e sabia que o café também, mas dirigiu-se à cafeteira e engoliu de uma vez um curto expresso. Não, não. Não iria chegar (!).

A verdade é que as lágrimas que o queimor na garganta fez descer pelos seus olhos e que confundiram-se e misturaram-se com as lágrimas que a agonia e decepção causada pelo terror titânico que a ansiedade, descomunalmente, o fizera criar e ingressar, colocaram-no em um ponto em que mal percebeu a sua chegada.

Ela ficou confusa.

Ele a enxergou de forma turva, por detrás das lágrimas. 


Nenhum comentário: