domingo, 16 de janeiro de 2022

Tempestade

É tarde, muito tarde. 

Estou bocejante pelo estacionamento e a chuva fina começa a cair enquanto caminho até o carro. 

O salto do meu scarpin é do tipo confortável pra qualquer um acostumado a usar salto, mas não é o ideal pra correr na chuva, então eu continuo caminhando normalmente e já estou bem perto de me abrigar no calor do veículo,  quando a chuva aumenta. 

Ah, eu só quero chegar no carro e ligar o aquecedor, mas também quero sentir um pouco as gotas de chuva me molhando e me assanhando, bagunçando minhas roupas perfeitamente adequadas e colando elas no corpo, indicando que não há nada que esteja dentro do controle e que o inesperado pode ser perfeito se eu recebê-lo assim. 

Demoro, propositalmente, a abrir a porta do veículo e a ligar o aquecedor porque de alguma forma o frio me fez sentir todo o calor que eu precisava. Já dentro, encosto no assento, cansada, mas viva, fechando os olhos e apenas esperando o momento em que a música que sempre coloco pra tocar comece a repetir de novo as dores que preciso expurgar.

É tarde, muito tarde, estou na estrada, sendo levada pela notas, melodia, pelos pensamentos que a música leva e pelos sentimentos que ela traz, cansada, bagunçada, estranhamente aquecida, acelerando com os relâmpagos, recepcionando os trovões, ignorando a forma em que a tempestade torna perigosa a minha direção e a forma em que minhas emoções me deixam sem rumo.

Me fizeram votos pra que eu aprendesse a amar as tempestades e é estranho. Me sinto bem. 


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